Grande parte de nós – os portugueses – sabemos que a hipertensão arterial é o principal fator de risco cardiovascular. Este dado ficará ainda mais compreensível se aceitarmos que cerca de 40% dos adultos portugueses são hipertensos, mesmo que os próprios possam não ter conhecimento deste facto. Trata-se de uma doença silenciosa. Grande parte da nossa população conhece algum dos outros fatores de risco cardiovascular ditos “clássicos”. De entre estes são reconhecidos a diabetes mellitus, o tabagismo, a dislipidemia, entre outros.
Surgem agora outros fatores de risco igualmente importantes, para os quais estamos ainda a despertar. Desde logo, a extensão e a qualidade do nosso sono. Sabemos, sem dúvida, que o nosso dormir já não é o que era…Dormimos de menos, ou dormimos demais, admitindo-se que, em termos de risco cardiovascular, dormir cerca de 7 horas por noite é ideal. A sesta, ou a “siesta”, dos nossos vizinhos fará mal a quem durma mais do que aquele valor por noite…
Outros dos fatores emergentes, são os ditos fatores de origem psicossocial. De entre estes, ressaltam as dificuldades económicas – muito comuns neste tempo pandémico. Há muito que se sabe que os mais pobres têm pior saúde, especialmente saúde cardiovascular. Esta verdade também se aplica entre nós, que não somos um país rico. Viver sozinho e com poucas relações sociais – situação cada vez mais frequente - também é pior para a saúde. Na verdade, a solidão é fonte de angústia e depressão.
Em regra, a presença de ansiedade crónica, especialmente induzida por razões profissionais, ou familiares, vai relacionar-se negativamente com a hipertensão. Portugal é conhecido pelas duas últimas situações. O mercado de trabalho passou a ser gerido por uma precaridade a que as últimas gerações tiveram que se adaptar. Por outro lado, como é reconhecido, a família, já não é a instituição estável de outrora. Prova disto é o elevado número de divórcios e o incremento de famílias monoparentais – muitas vezes associadas a uma degradação económica. Estes dados e o facto de que nos tornámos uma sociedade de serviços, eminentemente urbana, agravou naturalmente a solidão e, até mesmo, a exclusão…
Finalmente, um outro fator de risco emergente, importante em termos de risco cardiovascular é a poluição. A poluição, tanto em países ricos, como em países em desenvolvimento tem fortes potencialidades para causar doença. Aquilo que respiramos tem a potencialidade para induzir, a nível sistémico, uma reação inflamatória, responsável em última análise por disfunção do endotélio (a camada mais interna das artérias), facto muito importante para a indução de aterosclerose, a doença vascular mais prevalente. Sabemos também que em termos da motilidade das artérias, que são organismos elásticos e adaptáveis através da regulação do sistema nervoso autonómico, aquele que não controlamos, a poluição perturba o equilíbrio entre a vasoconstrição e a vasodilatação. Em termos simples, a primeira favorece o incremento da pressão arterial e a segunda a sua descida. Mesmo em países muito pobres, não industrializados, mas que cozinham queimando lenha, dentro das habitações, este problema é significativo. Outra fonte de poluição, algo ignorada, é o ruído ambiente. Sabemos hoje que a poluição sonora tem um papel no agravamento do risco cardiovascular.
Deste modo, para prevenir a doença cardiovascular, teremos que ter um movimento social e político, para além, muito para além da arte médica exclusiva – esta função de alerta também pertence à SPH.