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Publicado em 2015-10-06

12th Hypertension Summer School

Aprender a pensar e a atuar «fora da caixa»

A interação entre formadores e formandos e a abordagem de temas diferentes dos habituais continuam a distinguir a Hypertension Summer School da Sociedade Portuguesa de Hipertensão (SPH) das restantes formações nesta área. A 12.ª edição teve lugar na Curia, de 24 a 27 de setembro passado, e o balanço é novamente positivo.

Quem entrava na «sala de aula» da 12th Hypertension Summer School (HSS), que acolhia os 23 alunos, maioritariamente internos de Medicina Interna e de Medicina Geral e Familiar, percebia, desde logo, que se tratava de uma formação algo diferente do habitual. A troca de impressões constante e o interesse com que se debatiam os temas faziam prever uma formação de sucesso. E assim foi.
O Prof. Agostinho Monteiro, fundador e membro da comissão organizadora da HSS, salientou «a enorme participação dos internos, que revelaram ter apreciado imenso a reunião, até porque não estavam habituados a este género de interação em ações formativas». Além disso, o responsável focou também outra aposta ganha, que tem tentado levar a cabo ao longo dos anos: «A discussão de tópicos completamente diferentes dos que vulgarmente são abordados numa sessão de HTA [hipertensão arterial], pois o objetivo não é dar apenas informação, que hoje em dia se adquire facilmente por vários meios, mas sim uma real formação.»

TEMAS ABORDADOS:
  • 50 anos de investigação em HTA
  • Medicina personalizada
  • Como ler um paper sobre terapêutica
  • Como ler um paper sobre genética
  • Doença de Alzheimer e distúrbios relacionados
  • Microbiota intestinal e doença cardiometabólica
  • Sal e doença cardiovascular
  • Desnervação renal em HTA
  • O link que falta: mente e HTA
  • HTA e braquidactilia
  • Conhecimento e perceções sobre HTA


Conteúdos estimulantes
Desde a desnervação renal na HTA à relação desta patologia com a genética ou com a doença de Alzheimer, passando por questões relativas, por exemplo, à leitura de artigos científicos, foram vários os conteúdos em destaque ao longo dos quatro dias da HSS. «Apesar de serem temas diferentes, os formandos mostraram um extraordinário agrado, porque não foram receber um “livro de receitas” de HTA, até porque, para isso, bastava lerem as guidelines…», ressalvou Agostinho Monteiro.
«Deparamo-nos, todos os dias, com esta condição, seja no internamento e na urgência, seja nas consultas, e é algo bastante apelativo para mim, pois, além de médico, também sou hipertenso», contou o Dr. Vasco Neves, interno do 1.º ano de Medicina Interna no Hospital do Espírito Santo, em Évora, que confessou a sua preferência pelas apresentações referentes à relação da HTA com o sal e com a doença de Alzheimer.
Por sua vez, a Dr.ª Inês Teles mostrou-se «surpreendida com a diversidade de matérias tratadas, principalmente com os estudos relativos microbiota intestinal», confessando desconhecer o assunto até à data. Todavia, por ser interna do 2.º ano de Medicina Geral e Familiar, na Unidade de Saúde Familiar Flor do Sal, em Aveiro, «uma especialidade que tem de apostar muito na prevenção da HTA», decidiu candidatar-se, porque «todas as oportunidades para atualizar conhecimentos sobre esta patologia são uma mais-valia».
Também impressionado com a variedade das apresentações, o Dr. Hugo Clemente, interno do 4.º ano de Medicina Interna no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, confessou que já tinha tentado candidatar-se à HSS e, finalmente, conseguiu. «Julgo que, no currículo de Medicina Interna, é bastante importante que nos dediquemos à área cardiovascular, portanto, faz todo o sentido que tenhamos um conhecimento aprofundado em HTA.»

Incentivo à investigação
Os questionários anónimos, preenchidos no final da HSS, comprovaram a satisfação dos participantes, que deram sempre uma pontuação alta às várias questões colocadas, como, por exemplo, quanto aos tópicos apresentados ou à organização da reunião em si. Interrogados sobre um eventual aumento do interesse pela investigação, todos responderam de forma positiva, especialmente em relação à vertente clínica.
«Este projeto definiu uma nova forma de fazer raciocinar cientificamente as pessoas, que antes viam a HTA apenas como mais um fator de risco cardiovascular», comentou o Dr. Pedro Cunha, secretário-geral da SPH. É de referir que, todos os anos, há um exame final e o aluno com o melhor resultado recebe uma bolsa de estudo para investigação em Paris.
Pedro Cunha foi o vencedor na primeira edição da HSS, em 2003, o que lhe proporcionou uma «mudança de vida». «Tive a felicidade de, na altura, trabalhar com o Prof. Michel Azizi [investigador na Unidade de Hipertensão do Hôpital Européen Georges-Pompidou] e isso modificou a minha estrutura de pensamento científico e despertou o meu interesse pela investigação», afirmou o também membro da comissão organizadora desta iniciativa, que adiantou ter «a expectativa de que todos os colegas que possam beneficiar desta possibilidade alarguem também os seus horizontes».
Nesta 12.ª edição da HSS da SPH, o aluno com melhor pontuação foi o Dr. Pedro Marques, interno do 2.º ano de Medicina Interna no Centro Hospitalar de São João, no Porto, que irá estagiar três meses num centro de referência em HTA francês.

Relações próximas com especialistas franceses
A ideia de fundar a HSS portuguesa partiu de Agostinho Monteiro, que, desde o início, convidou vários elementos para colaborarem na criação desta ação formativa, incluindo especialistas de renome internacional na área da HTA, como os Profs. Jöel Menard, Xavier Jeunemaitre ou Michel Azizi, que logo se disponibilizam para, sem qualquer custo, serem formadores neste curso em Portugal.
«Ao longo destes 12 anos, formámos mais de 300 jovens portugueses e todos eles trabalham, hoje em dia, na área de hipertensão arterial. Muitos dedicam-se à investigação, portanto, tem sido um sucesso», declarou Jöel Menard, professor emérito de Saúde Pública na Université Paris Descartes.
Xavier Jeunemaitre, diretor do Departamento de Genética do Hôpital Européen Georges Pompidou, acrescentou ser «um grande prazer encorajar estes jovens para a investigação clínica e, por outro lado, rever os colegas portugueses». «Ano após ano, nota-se que os internos têm cada vez mais conhecimentos, tanto na área clínica como na investigacional», rematou.
Para o Prof. José Mesquita Bastos, presidente da SPH, «este intercâmbio de conhecimentos entre Portugal e França é muito importante, até porque a HSS é um ex-libris da Sociedade Portuguesa de Hipertensão e, mais uma vez, decorreu com grande qualidade». Por isso, o responsável afirma que «esta é uma iniciativa de sucesso da SPH que, certamente, vai continuar nos próximos anos».
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